Sempre pensamos no Banheiro no momento do aperto!
Esse ambiente mais íntimo de nossa casa as vezes nos passa
desapercebido, mas ele sempre está lá quando precisamos fazer nossas ‘necessidades’.
Será mesmo?
Nem sempre foi ou é assim.
E se pararmos para pensar na importância desse espaço, será
que conseguimos imaginar como era tomar banho e fazer as necessidades fisiológicas
antigamente?
O Banheiro gera um assunto muito importante a ser
desenvolvido, pensado e dialogado, que vai da Arquitetura ao Urbanismo, da
estética à saúde pública, que é o Sistema
Sanitário.
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Banheiro Social, Projeto 2019 - Campinas
Por Annie Carrera |
Um pouquinho de
história
Na antiguidade, por volta de 2.000 a.C, surgiram no Egito as primeiras
latrinas com assento como conhecemos hoje. Na época haviam banheiros apenas
para banhar-se, e outros apenas para se fazer as necessidades fisiológicas.
Na Roma antiga os banheiros eram
comunitários e as pessoas sentavam lado a lado numa espécie de banco de madeira
ou pedra, com buracos nos quais os dejetos eram liberados e embaixo
deles passava um canal de água corrente (os aquedutos) e até mesmo esgoto,
usado para carregar esses dejetos até rios distantes. Os romanos popularizaram
os banhos públicos, os chamados banhos termais.
Esses encontros nos banheiros públicos promoviam
interação, debates, encontros cívicos e até mesmo banquetes. Embora
houvesse divisões para homens e mulheres, às vezes, ocorria o fato de não respeitarem
essa separação e era muito comum ficarem nus na frente um dos outro.
Por questões culturais e religiosas com o avanço do moralismo
cristão pela Europa ao longo da Idade Média, os banhos e latrinas públicos
foram proibidos. Porém a grande crítica da Igreja não foi as latrinas em si,
mas aos banhos públicos, onde as pessoas ficavam nuas ou seminuas. Por isso
passou-se a proibir o banho regular e a frequentar esses ambientes julgados
antros de safadeza por incitar a luxúria e outros pecados.
A higiene pessoal passou a ser feita com panos úmidos, sempre em
ambiente privado e raramente todos os dias. Nas casas mais abastadas haviam
banhos de tina, mas era comum que a família inteira se limpasse com a mesma
água.
Com isso,
...
‘todos os avanços dos antigos romanos “foram pro ralo” na Europa medieval. Eles
simplesmente se esqueceram de todos os sistemas desenvolvidos séculos antes, e
não tinham nenhuma infraestrutura. Era comum que o esgoto corresse a céu
aberto, em valas no meio das ruas. E o pior: dentro das casas não existiam
banheiros. Os penicos eram utilizados por todos e esvaziados pela janela.
Banheiros dentro de casa só começariam a se popularizar na Europa em 1668,
quando a França instituiu uma nova legislação em Paris: o decreto determinava
que todas as novas casas construídas na cidade deveriam ter esse importante
cômodo.’
Banho de Tina
Foi no século 18 que prevalece a ideia de que a falta de banho causa
doenças e isso faz com que, no século 19, as redes de água e esgoto das cidades
comecem a prosperar. Essa evolução sanitária facilitou a instalação de
banheiros familiares nas casas. No Brasil, nas residências de famílias ricas,
apareceram as primeiras peças importadas de louça e ferro esmaltado. E a partir
de então passamos a ter a construção do banheiro basicamente como conhecemos
hoje.
E desde então a tecnologia das peças,
revestimentos e instalações hidráulicas e elétricas foram se transformando e
hoje, os banheiros contemporâneos buscam cada vez mais sustentabilidade,
economia de água, automação, design e limpeza. E no caso dos banheiros
públicos, busca-se cada vez mais acessibilidade, segurança, qualidade de vida e
saúde aos usuários.
A questão
sanitária
Ao longo da história da humanidade é importante pensarmos no
banheiro como uma questão de saúde pública.
“Nenhuma invenção salva tantas vidas como o vaso sanitário”
Não vou contar aqui a história da invenção
do vaso sanitário pois é facilmente encontrada na internet, mas é muito interessante
sabermos que existe o Dia Mundial do Vaso Sanitário.
A ONU, Organização das Nações Unidas
com a iniciativa de Cingapura, oficializou em 2003 o dia 19 de Novembro como o
Dia Mundial do Vaso Sanitário. Desde então, atividades e discussões são fomentadas
para que se conscientizem os governos de todos os países sobre a importância de
assegurar um saneamento adequado para toda a população.
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Banheiro Público, Paris - Séc. XIX |
O World Toilet
Day, como é conhecido internacionalmente, ajuda a conscientizar as pessoas e os
governos sobre a enorme quantidade de pessoas que não possuem acesso à um vaso
sanitário limpo e com sistema de saneamento adequado.
O problema vai
muito além do que ter que urinar ou defecar ao ar livre, pois a falta de
saneamento básico de qualidade facilita a proliferação de doenças perigosas,
como malária e a diarreia, que afeta principalmente as crianças e os
recém-nascidos.
Vamos a
alguns números:
- 6 em cada 10
pessoas no mundo vivem sem sistema sanitário. Isso atinge cerca de 4,5 bilhões
de pessoas.
- 2,1 bilhões de
pessoas não têm acesso à água potável.
- Quase 1.000 crianças
morrem por dia decorrentes da crise sanitária.
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Crise Sanitária Mundial |
Muitos
parasitas e doenças como a cólera, o tifo e a poliomielite são disseminados
devido à falta de sistemas seguros de saneamento. Muitos países ao redor do
mundo, como por exemplo a Índia, vários países Africanos e mesmo o Brasil têm sérios
problemas sanitários e dificuldade para oferecer sistemas de saneamento aos
seus cidadãos.
A OMS
enfatiza a importância de atender principalmente às necessidades das
comunidades mais carentes e aos espaços públicos – especialmente às mulheres e
meninas, para quem os banheiros significam mais do que higiene e saúde: eles
são fonte de segurança e educação.
A questão cultural
Para que os objetivos e as metas de saneamento
sejam atendidos, não basta só construir banheiros, é importante considerar que
há uma questão cultural e de regionalidade para conscientizar as
pessoas sobre a importância da higiene.
Nem sempre o modelo europeu de sistema de esgoto
é viável em todo o mundo. Seja por questões financeiras, seja por questões estruturais, porque
existem regiões, por exemplo, que simplesmente não dispõem de água para esse
tipo de sistema. Por isso desenvolver outras tecnologias, como de compostagem
ou mesmo de fossas sépticas instaladas longe de poços e leitos mananciais são
soluções possíveis. O mais importante é que os resíduos não sejam liberados
diretamente no meio ambiente e que as pessoas tenham acesso a um sistema
sanitário eficiente e um banheiro seguro e digno.
Assim
podemos perceber que o vaso sanitário ao longo da história se transformou em
objeto de extrema necessidade nas residências e nos espaços públicos,
promovendo a melhoria das condições de saúde de milhões de pessoas.
As fezes humanas
carregam mais de 50 doenças transmissíveis, e uma privada pode reduzir
infecções em 40%. A invenção mais importante do mundo proporcionou o descarte
mais eficiente de dejetos, diminuindo doenças e aumentando a qualidade e a expectativa
de vida nas cidades.
Texto escrito por Annie Carrera,
Em meio à pandemia do Coronavirus - COVID-19
Maio/2020
Referências: